Segundo a tese (brilhante, como todas as que têm origem no MPLA) do Governo, o combate à seca no Sul de Angola fica reforçado com o novo sistema de recolha e transmissão de dados via satélite sobre os recursos hídricos e sobre a localização dos assentamentos populacionais mais vulneráveis do país agora apresentado. Em Novembro de 2019, o Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional já tinha anunciado a mesma coisa…
O método, designado por “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola”, funciona com três satélites norte-americanos especializados na radiografia dos solos, particularmente, na avaliação dos recursos hídricos. A iniciativa, orçada em 550 milhões de dólares, é financiada pela Agência Espacial Americana (NASA).
O objectivo desse projecto, que tem duração de três anos, é fornecer dados ao Governo angolano sobre o estado dos recursos hídricos e a localização das populações mais vulneráveis ao impacto da seca.
Com recurso à tecnologia espacial, este sistema fornecerá, igualmente, informações sobre os locais ideais para a implementação de projectos estruturantes, como o Canal do Cafú. Assim, o “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola” servirá como fonte de informação para o apoio na tomada de decisão sobre as políticas a curto, médio e longo prazo.
Na apresentação do referido projecto, a gestora, a norte-americana Danielle Wood, disse que o mesmo já está em funcionamento e a ser desenvolvido com quadros angolanos, particularmente, do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN).
A especialista norte-americana adiantou que um software fornecerá dados que vão gerar informações precisas que vão ajudar a resolver o problema da seca cíclica no sul do país. Assim, o projecto vai poder estimar a intensidade da seca, a partir das avaliações feitas à terra, pelos três satélites, sobre as quantidades de água nos solos de Angola.
Por sua vez, Osvaldo Porto, gestor de projectos do GGPEN disse que neste projecto não será possível utilizar o Angosat2 devido às suas características centradas nas telecomunicações.
“Não vamos utilizar o Angosat2 porque se trata de satélite exclusivo de telecomunicações e não um de observação da terra. Para o efeito estão a ser usados satélites de sensores remotos que gravitam numa órbita inferior ao de telecomunicações ”, asseverou o especialista.
Por isso, esclarece o cientista angolano, Angola viu-se obrigada a terceirizar este serviço à NASA por necessitar de imagens de alta resolução e um satélite de telecomunicação não providencia.
Na ocasião, o secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Pascoal Alé Fernandes, considerou o projecto como uma importante plataforma de recolha, organização e partilha de informações sistematizadas e permanente.
“Este projecto é uma iniciativa dos sectores das TIC, em parceria com o instituto de engenharia norte-americano “Massachusetts Institute of Technology (MIT), que se junta a outras iniciativas do Governo angolano, no sentido de reduzir significativamente o impacto resultantes das cíclicas situações de seca, em particular na parte sul de Angola.
Segundo o responsável, em 2019, Angola sofreu a pior seca dos últimos 40 anos, o índice pluviómetro fixou-se abaixo dos 65 por cento dos níveis normais, deixando mais de 1.300 pessoas das províncias do Cunene, Huíla e Namibe, com elevadas perdas financeiras, bem como o agravamento dos problemas sociais das populações locais.
O secretário de Estado afirmou que iniciativas do género catapultam Angola a posicionar-se entre os países emergentes na área espacial mundial e África. Neste momento, Angola está entre os 11 países africanos que nos últimos 10 anos mais avanços fizeram no sector espacial, facto comprovado pelo satélite Angosat2.
Já o director provincial do gabinete para as infra-estruturas da província do Cunene, Édio Gentil, considerou que o “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola”, lançado esta quinta-feira, vai ajudar na tomada de decisões ligadas às secas e às cheias que assolam o Cunene.
Nesta altura, há um contraste com os números observados em 2019, normalmente, a província só recebe chuvas entre os meses de Fevereiro e Março, mas a província está desde os finais do ano passado a sofrer cheias e com famílias a serem realojadas.
Agora é que vai ser. O quê? Ninguém sabe
O Governo do MPLA (o único que os angolanos conhecerem desde 1975) não está com meias medidas e promete acabar com os 20 milhões de pobres. Ou melhor, promete o lançamento de satélites de teledetecção remota no âmbito do tal programa de Estratégia Espacial até 2025.
Segundo o documento, esta estratégia prevê o estudo da viabilidade da construção e lançamento de satélites de teledetecção remota, para observação da terra e meteorologia, por parte do Governo, entre 2019 e 2025. Em complemento, uma das estratégias constantes do programa espacial angolano implicaria ainda a construção de estações terrestres para recepção directa de imagens de satélite.
Outras estratégias a implementar até 2025 prevêem a implementação de um sistema de informação geográfica, um programa de observação da terra através de imagens de satélite, um sistema nacional de comunicações por satélite e o lançamento de tantos “AngoSat” quantos a megalomania do regime entender.
“A estratégia especial permitirá à República de Angola construir um edifício ambicioso e sustentável como instrumento do seu progresso socioeconómico e de afirmação internacional, cumprindo deste modo, de forma eficaz e inovadora, os propósitos estratégicos gerais e sectoriais do país”, lê-se no documento.
O AngoSat-1 iria – disse o então ministro José Carvalho da Rocha – “não só prestar serviços à população, como a toda a região, e também provocar uma revolução no mundo académico angolano, com a transferência de conhecimento”. Isto não tivesse desertado para parte incerta…
“O satélite vai cobrir todo o continente africano e uma parte da Europa. Nós vamos ter capacidade para servir as nossas necessidades e prestar serviços a outros países da região de cobertura do AngoSat. Temos que procurar aqueles projectos que possam trazer divisas para o nosso país”, explicou o ministro.
Ao contrário do que pensavam os angolanos, o satélite e projectos similares não vai trazer comida, nem medicamentos, nem casas, nem escolas, nem respeito pelos direitos humanos. Importa, contudo, compreender que há prioridades bem mais relevantes. E os satélites são uma delas.
“Este Satélite é o primeiro e marca a entrada de Angola numa nova era das telecomunicações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequentes,” referiu em 2012 o então coordenador do projecto, Aristides Safeca.
Ao que tudo indica, com esta estratégia espacial o nosso país deixará de ter 68% da população afectada pela pobreza, ou uma das mais alta taxas de mortalidade infantil no mundo.
Será também graças à estratégia espacial que não mais se dirá que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, ou que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Do mesmo modo, com a estratégia espacial do Governo não mais se afirmará que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. Ou que 45% das crianças sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Recorde-se que em Novembro de 2019, foi lançado o Projecto de Quantificação da Problemática da Seca no Sul de Angola, lançado em Ondjiva, capital da província do Cunene, a mais afectada pela seca, pelo Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN) do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias da Informação.
Registe-se a pedalada do governo que até tem um “Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional”.
O projecto, que iria monitorizar a seca com a utilização de dados de satélite, visava demonstrar a implementação de um protótipo do sistema de exploração de dados de satélite para a gestão hídrica e monitorização da seca, avançava uma nota do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias da Informação. Ou seja…
“Com o Projecto de Quantificação da Problemática da Seca pretende-se explorar os dados de satélites para se combater a problemática da seca, determinar a taxa de ocupação do solo, identificar as fontes hídricas superficiais, determinar a densidade populacional, realizar análises do histórico das precipitações das regiões e do índice de vegetação e actuar na prevenção e monitorização das secas”, referia o comunicado.
Na sua intervenção, o titular da pasta, José Carvalho da Rocha, disse que o projecto “é um contributo para o melhoramento das condições sociais e económicas do país, com especialistas nacionais e estrangeiros”.
Uma das participantes internacionais no projecto, que actua como investigadora principal, era exactamente Danielle Wood, professora do Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos da América. É, garantidamente, doutorada (no mínimo, porque o MPLA não faz por menos) em “Quantificação da Problemática”.
Daniele Wood destacou no seu discurso que a utilização do satélite de observação da terra permite observar a previsão do caudal dos rios, estudar o solo, vegetação e localização da população afectada pela seca. Agora vem explicar que Angola teve de terceirizar este serviço à NASA por necessitar de imagens de alta resolução e um satélite de telecomunicação não providencia…
Segundo o ministro, o projecto é um trabalho conjunto do Instituto Nacional de Meteorologia (Inamet), do GGPEN, universidades angolanas e dos ministérios do Ambiente e do Ensino Superior, “na busca de melhores caminhos para compreender cientificamente o problema da seca e as soluções”.
Além do Cunene estão afectadas pelo problema da seca as províncias do Cuando Cubango, Huíla e Namibe.
O governador da província do Cunene, Virgílio Tyova, ressaltou que a seca afectou seriamente a vida e a economia daquela região no sul de Angola, vizinha da República da Namíbia, estando em curso medidas de mitigação do problema, nomeadamente a reabilitação de furos de água e a construção de 89 chimpacas (pequenos lagos artificiais) para dar de beber ao gado e irrigar campos agrícolas.
Legenda: Danielle Wood, gestora norte-americana
Folha 8 com Angop